Ibertioga é uma das três cidades vizinhas à Barbacena que participa de um processo histórico, uma estratégia da Reforma Psiquiátrica que começou a ser idealizada em 1990 e agora em 2021 representa para dezenas de pessoas a concretização de sonhos, a promoção da vida e o acesso à liberdade.
No dia 10 de agosto começaram a chegar em nossa comunidade os moradores das Residências Terapêuticas. Em três casas, receberemos ao todo 25 pessoas que tiveram alta depois de longos períodos de internação em hospitais psiquiátricos. É um processo que deverá acontecer também em Carandaí e Antônio Carlos, mas se iniciou em Ibertioga por termos aqui concluído primeiro a longa preparação dos técnicos envolvidos no trabalho e também a adaptação física das casas (reforma).
De acordo com a coordenadora de Saúde Mental de Barbacena, Flávia Denise Barbosa Vasques, estes novos cidadãos ibertioganos ficaram em média 47 anos internados e, por diferentes motivos, estão impossibilitados de retornar às famílias de origem. “São pessoas com diferentes histórias de vida, muitos cheios de traumas, e que agora trazem consigo a oportunidade de reabilitação, reinserção e mudanças, especialmente uma mudança cultural da sociedade”, explica. Para Flávia, a chegada desses novos moradores é um convite para que qualquer pessoa passe a olhar o transtorno mental com outros olhos. “Eles chegam à Ibertioga para uma nova fase tanto da vida deles quanto das pessoas que vão conviver com eles”, completa.
Leandra Mara Vilhena Melo Vidal, coordenadora das Residências Terapêuticas em Barbacena, chama a atenção para a conquista que representa para estas pessoas ter uma casa, uma rotina mais livre, contato social e autonomia. “Enquanto estavam na FHEMIG, eles seguiam protocolos. Era um ambiente hospitalar, sem acesso ao território, à vida cotidiana. Agora eles terão poder de decisão, vão poder andar pelas ruas, fazer compras, escolher as próprias roupas, ter um animal de estimação. Já imaginou o tamanho dessa mudança?”
ADAPTAÇÃO
Diante de tanta novidade, os novos moradores passam atualmente por um período de adaptação. Por isso estão sendo acompanhados muito de perto pelos cuidadores contratados pela Prefeitura, com aportes do Governo Federal e Estadual, para tal serviço. A estimativa é que, mesmo tendo o direito a esses cuidados garantido permanentemente, muito em breve eles circulem pela cidade e convivam com vizinhos, comerciantes e outros habitantes como qualquer cidadão que tenha escolhido morar em Ibertioga.
A qualidade de vida deles é um dos pilares do projeto, segundo a assistente social Denize Aparecida de Paula, coordenadora das Residências Terapêuticas em Ibertioga: “O objetivo principal é promover espaços de solidariedade, implicando ações voltadas para a individualidade. Queremos valorizar a inserção social deles com espaços que proporcionem respeito, dignidade, cidadania, sempre promovendo a autonomia ética e respeitando os direitos de cada um”. Para tal, Denise destaca o apoio do trabalho em redes e parcerias, como a do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e da Estratégia Saúde da Família (ESF).
O psicólogo do CAPS Marcone Melo reitera que esses novos moradores não são pacientes, não precisam de médico o tempo todo. “Eles precisam de serviços comunitários como qualquer outro morador da cidade. A diferença é que eles não tinham lugar de morada, agora têm. Muito rapidamente todos vão se adequar!”, acredita. Para reafirmar os princípios da Reforma Psiquiátrica, a equipe destaca que a liberdade é terapêutica: “Todos nascemos para ser livres, o que fere isso é que causa danos”.