Já se imaginou sendo taxado de louco em um passado não tão distante? Medicado com injeções e comprimidos contra a sua vontade, preso no leito de um manicômio ou em uma camisa de forças, acorrentado, tratado como um animal selvagem, submetido a choques constantes para “tratamento” da sua loucura? O que você sentiria nessa situação? Como seria sua reação?
Estamos vivendo um momento de isolamento social. Se isso já é um sofrimento para todos nós, imagina o que essas pessoas passaram e sofreram? Há alguns anos, milhares de pessoas foram excluídas pela sociedade por não se enquadrarem em padrões ditos normais, foram consideradas loucas e internadas de forma compulsória em hospitais psiquiátricos, que eram verdadeiras prisões. Essas pessoas ficaram à margem da sociedade, sem identidade, sem convívio social, sem família, sem dignidade. Passaram fome e frio, muitas não suportaram e morreram em meio a tantas adversidades.
A lei 10.216 de 06 de abril de 2001, conhecida como a lei da Reforma Psiquiátrica, foi criada para mudar esse cenário. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nasceram para garantir os direitos das pessoas portadoras de sofrimento mental e usuários álcool e outras drogas.
Os CAPS são serviços de saúde compostos por equipe multiprofissional, que realizam atendimentos a essas pessoas e aos seus familiares. Os tratamentos contam com suporte multidisciplinar, discussão de caso, orientação, atendimento em grupos, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e atividades que têm como foco a inserção da pessoa com sofrimento mental na comunidade, respeitando os direitos e a singularidade humana.
Os manicômios físicos estão sendo extintos, mas para muito além disso, precisamos desconstruir os manicômios das nossas mentes, desprendendo do estigma “loucura” impregnando na cultura social. Precisamos entender que a sociedade é constituída pela diversidade humana e que não se enquadra em padrões impostos por uma autarquia ideologista.
“Cuidar com liberdade” é o nome do CAPS com sede em Ibertioga e que atende também a moradores dos municípios de Santa Rita do Ibitipoca e Santana do Garambéu. Este nome traz consigo o objetivo deste e de todos os CAPS na luta antimanicomial. E para nós, ibertioganos, é motivo de orgulho estar ajudando a mudar histórias que já foram tão tristes.
NOSSA REALIDADE
Hoje no município de Ibertioga contamos com a habilitação do CAPS e de três Residências Terapêuticas com financiamento do Ministério da Saúde e contrapartida municipal. O CAPS funciona de portas abertas, não precisando agendar os atendimentos. Qualquer pessoa que precise, pode procurar o serviço de segunda a sexta-feira, entre 7h e 18h, sendo acolhido de forma humanizada e respeitando a singularidade do sujeito, um cuidado que garante os direitos humanos. Inclusive, para maior comodidade de todos, o CAPS terá em breve um novo endereço. Vai funcionar na Praça Santo Antônio, atrás da Matriz, onde já funcionou a sede do SAMU.
Ibertioga está se preparando para receber as Residências Terapêuticas que irão acolher pessoas de até 70 anos de internação em hospitais psiquiátricos, onde tiveram seus direitos violados. Foram tirados deles a liberdade e convívio social apenas por não enquadrarem nos padrões da sociedade e/ou portarem sofrimento mental. Por terem sofridas tantas negligências, essas pessoas atualmente estão sob responsabilidade do Estado e da sociedade na tentativa devolvê-las o mínimo de dignidade no restante de vida que elas têm.
Essa nova estrutura dos serviços em Saúde Mental no município de Ibertioga é um marco histórico: vamos fazer a diferença na realidade de pessoas que agora poderão usufruir de um lar e ser acolhidas num ambiente comunitário, contando sempre com o CAPS no cuidado com respeito e liberdade.